quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Para aqueles que sabem ler

Segunda, Terça, Quarta, Quinta e Sexta. Não importa o dia, semanalmente eu caminho à biblioteca e me vejo em meio a dezenas de corredores, entre milhares de livros. Hoje, não foi diferente, caminhei escutando música como sempre, tropecei nas calçadas desniveladas como sempre, quase fui atropelado por uma bicicleta, como sempre. Tudo estava exatamente igual.

Até que mais uma vez me embrenhei pelos corredores abarrotados de livros, e pasmem, não os encontrei lá. No lugar das capas duras, capas moles, brochuras, relíquias seculares, best-sellers, havia pessoas. Homens e mulheres, crianças e idosos, negros, brancos, índios e mestiços, todos estavam lá, balançando suas perninhas nas estantes, uns acenando, outros sorrindo, alguns meio melancólicos, outros deprimidos, e ainda havia aqueles que sequer me olhavam.

Livros são como pessoas. Eles têm tamanhos diferentes, cores diferentes, conteúdos, cheiros, ideias, sentimentos diferentes, eles têm personalidade.

Podemos recorrer aos livros nos momentos mais solitários dos nossos dias, e eles sempre estarão lá, dispostos a nos acompanhar e nos tirar da mesmice, do isolamento, nos contando histórias magníficas sobre as mais diversas e surpreendentes aventuras. Nos transportando para o mais profundo abismo, ou para a mais alta montanha.

Livros também nos procuram para desabafar. Para falar de amores não correspondidos, de vidas mal vividas, de ódio, inveja, de saudade, de paixões avassaladoras. Livros nos enxergam como terapeutas, que os analisam e apoiam incondicionalmente.

Livros nos despertam sentimentos. Seja pelos cheiros que nos fazem viajar a outro plano existêncial, seja por passagens que levam à reflexão. Eles nos fazem rir, chorar, odiar os vilões, amar os mocinhos, ou amar os vilões e odiar os mocinhos. Livros tocam nossos corações.

Ainda há aqueles livros que são como nossos melhores amigos, que não nos cansamos de gastar horas e mais horas em longas conversas. Todos temos em nossos quartos, ou salas, ou bibliotecas aquele volume que constantemente insistimos em tirar de sua capa de poeira para papearmos por coisas as vezes muito inúteis. E por mais que conheçamos o final da história, conheçamos cada vírgula e ponto final, não nos enjoamos deles, pois são como amigos que não cansamos de rever.

Livros, livros, livros...

Tão vivos quanto eu ou você. Escondidos sobre capas sóbrias e páginas secas. Prontos para se revelarem para todo aquele que souber...

Ler!

domingo, 20 de setembro de 2009

A Maquiagem e a Foto

Não sou do tipo que comenta muito nos blogs afora. Gosto muito de ler o que escrevem - e também gosto que me leiam - , e quando comento, faço um comentário a altura. E foi fazendo isso que me peguei divagando sobre um tema muito complexo: a máscara que usamos dia após dia.

O texto que li fala sobre a maquiagem de palhaço que temos de usar diariamente, a mentira que temos de pregar à cara. O conto ( é um pequeno conto) vale muito a pena, por isso colocarei aqui o link:
Escrivaminha


Eis meu comentário que se tornou um post:


Não sou muito bom em comentários, por isso evito comentar. Mas depois de ser intimidado não posso mais fugir do compromisso.

A maquiagem de palhaço me lembra muito um termo que eu uso quase que diariamente nos meus momentos de sabedoria bíblica: A foto.

Eu costumo dizer que todos nós temos nossos momentos de fotografia da família. Onde temos que por um belo sorriso no rosto, abraçarmos uns aos outros e mostrarmos ao mundo quão belo é o nosso amor, quando no fundo, temos inveja, cobiça, raiva, odiamos, amamos, matamos, roubamos, somos humanos. Somos esféricos. Não folhas de papel, secos, sem graça, sem conteúdo.
A maquiagem de palhaço que por vezes temos de usar, a foto que por vezes temos de ser, tudo isso faz parte de uma complexa relação social na qual estamos inseridos e que nos obriga, nos pressiona a sermos e estarmos como não somos e estamos de verdade.

Agora eu sou João, com personalidade, com ideias e desejos. Amanhã a tarde, ao sair para a escola serei o mesmo que agora? Ou farei parte de uma foto em que me obrigo a estar? Ou estarei sob a maquiagem do palhaço - que só faz rir - que pedem que eu seja?

O importante é ser você, mesmo que seja estranho - diz a letra da música - mas nos é garantido esse direito?

Três Quartos - Delírios de noites febris

Diferente do que eu imaginava, algumas pessoas me pediram para dar continuidade ao meu delírio da noite anterior.
O homem estava no quarto, na soleira, entre a pálida luz do corredor e o quarto escuro, empoeirado. Àqueles que quiserem entender, recomendo a leitura da primeira parte. Àqueles que já a conhecem, apenas digo para seguirem em frente.

O homem agora está no quarto, a porta se fecha para o corredor, e o reino de papel e criatividade para ele se abre.


Três Quartos - J.P.L.Campos

II

Estava escuro. Mas havia luz; pouca é verdade.Por baixo da velha porta de madeira pintada de amarelo pelo lado de fora e mantida na sua cor original marrom-avermelhada na parte de dentro, um pálido filete de luz era filtrado. A luz tinha cor de doença, a cor dos olhos de meninos pobres, a cor de tudo o que o Homem coloca para fora quando enfermo. Era algo horrível, podia-se até mesmo sentir seu cheiro difamando o templo de papel que por ali fora erguido. E que o homem admirava.

Havia uma janela no outro extremo do quarto, e estava coberta por um grossa cortina vermelha. O homem no entanto não podia saber qual era sua cor, na realidade sequer imaginava a existência de uma cortina por ali. Ele mal se notava.

E ele permaneceu de pé. Estático. Absorvendo cada detalhe do lugar, mesmo estando mergulhado na escuridão, pois não é através dos olhos que se vê, mas sim a partir de todo o corpo. A visão atravessa cada poro da pele, eriça fios de cabelo, penetra nossas narinas, dança pelos lábios, como se um amante fosse.

Havia um certo barulho mecânico no quarto. Não chegava a ser um barulho na realidade, estava mais próximo de um sussurro, como o tic tac de um relógio que tem seu som abafado por almofadas e comprimido contra o apoio mais próximo. Sufocamos o som incessante e irritantemente penetrante de um tic tac, tic tac, tic tac, mas o que desejamos silenciar, e silenciar para sempre, não é o pequeno objeto. Não. E é isso que ouço agora, Tic tac, Tic tac, Tic tac, Tic... Os ponteiros param então.

Mas no quarto, o sussurro mecânico continua; logo a atenção do homem é desviada, havia muito mais para ver. Um cheiro de comida. Seria pizza? Ou alguma outra coisa com queijo e carne. Por que sem dúvidas havia queijo por ali. Talvez o alimento já estivesse estragado, talvez vermes vivessem ali, se espalhando por todos os cantos, e talvez se procriem loucamente até que a carne já não mais exista.

Não há apenas pedaços de pizza no quarto para os vermes, há um homem também.

Isso ele ouviu. Ou de sua mente, ou das paredes, ou quem sabe de um verme sedento e insatisfeito com os restos que cedo ou tarde chegariam ao fim.

Um leve roçar em suas pernas. Ele vestia jeans, um sujo e muito usado jeans, e mesmo vestido ele pôde sentir o que quer que fosse passando rapidamente pelo vão entre seus membros. Sentiu também o cheiro, e provou um pouco de sua essência. O cheiro não lhe era estranho, o sabor... como mel e camomila numa tarde de primavera, mas no fim, um leve sabor de graxa e terra seca. Ele conhecia esse sabor. Era um misto de sussurros, de palavras já ditas e de gritos abafados e de lágrimas fingidas.

O homem se arrepiou. Não podia controlar essas reações do seu corpo. Porém nada temia. Ele apenas estava ali, atado, no quarto escuro. Escuro. Repentinamente - ou teria sido demoradamente? - ele se lembrou de algo em seu bolso, uma coisa que carregava mas que raramente usava: seu isqueiro verde.
Depois do almoço ele costumava fumar um cigarro, mas problemas de saúde o obrigaram a abandonar o velho hábito. E ele o fez.
Entretanto preservou um antigo vício: carregar o familiar isqueiro verde no bolso esquerdo da calça.

Deslizou a mão pelo jeans e meteu-a no bolso, segurou firmemente o objeto elevando-o a altura dos olhos, mesmo que nada visse. Riscou uma, duas, três vezes, uma pequena faísca surgiu em cada uma das tentativas, e nada.
Quatro, cinco, seis. E o mundo ainda era trevas. Sete, oito, nove.

E então fez-se luz.

Sensações

Cheiro de café
Cheiro de chuva
Cheiro de mato úmido

Um gosto doce na boca
Um gosto amargo no fim
Um gosto de canela também

Um leve som
Um tamborilar de dedos impacientes
Uma espera mortal

Uma suave brisa
Que a face alisa
Numa noite de amor

Uma lua branca
Num céu eterno
Um olhar fugaz

Um vestido que cheira
A café e canela
De um amor voraz

Um suspiro final
Um toque macio
Um toque carnal

Numa dança eterna
De sombras e velas
Numa roda sem fim

Cheiro de café
Cheiro de chuva
Cheiro de mato úmido

sábado, 19 de setembro de 2009

Três Quartos - Delírios de noites febris

Quando se está gripado, muito gripado, e com sono, muito sono, é facil se perder em devaneios noturnos, confundir realidade com sonhos, ou delírios febris. Dormi ao lado de um livro, acordei com outro na cabeça. Talvez ter de ficar em casa, com dor por todo o corpo não tenha sido de todo ruim, afinal, uma ideia sempre é uma ideia, seja ela boa, ou ruim.
E eu tive uma ideia!
Pensei em meu quarto, em sua personalidade, nos seus cheiros e sentidos, e pasmem: descobri que ele é muito menos estático do que eu imaginava, e muito mais consciente de si do que muitos por aí. - Será esse outro delírio febril?

Sinceramente não sei, e justamente por não saber escrevo por aqui, pois o blog pode enfim servir de instrumento revelador da realidade, mesmo não sendo ela tão real assim.




Três Quartos - J.P.L.Campos

Um cheiro de papel com um leve toque de mofo. O ar pesado como se um manto de poeira milenar ali repousasse. Um aroma de criatividade e muito sono. Assim era o quarto.
O homem que ali entrou entrara por engano, procurava por outra porta dentre tantas iguais naquele cortiço imundo. Que exalava a morte.

Disfarçadamente ele a ia fechando, antes que alguém notasse o equívoco e em problemas o metesse, tudo ali era motivo para uma boa discussão. Como quando Dona Vera recolhera o lençol da Maria do varal em dia de chuva. Apesar do favor, Maria não poupou seus pulmões de idosa e pôs-se a gritar com a outra mulher, chamando-a de ladra, puta e invejosa. Maria não frequentara a escola, e tudo o que aprendera a dizer fora nas ruas daquela cidade tortuosa, marrom-acinzentada, cor de pedra, cor de vergonha.

O homem então deu um passo para trás, mas algo o puxava de volta para o cômodo. Alguma coisa ali o fazia diferente.
Poderia ser o cheiro de papel velho que em nenhum outro lugar podia se sentir, ou o delicado aroma de criatividade, ou ainda quem sabe as pilhas de livros do século XIX ao lado da cama.

Fosse o que fosse ele se sentiu atraído, preso por aquele lugar. Então vagarosamente empurrou a porta, agora a fraca luz do corredor inundava mais da metade do quarto; pé ante pé ele adentrou o recinto tomando cuidado com o ranger das tábuas soltas do soalho. Respirou profundamente aquele aroma novo, deliciou-se com diferentes sensações, olhou para um lado, para o outro, observou o relógio velho que carregava no pulso: quase três e meia da tarde. Olhou um pouco mais. E entrou.

O homem estava no quarto.

My Super Sweet Saturday

É a gripe que a cada instante piora, é o MSN que não abre, é o simulado que não sei se terei condições de ir amanhã, é a prova de Química Orgânica na Terça, é o cansaço físico, é a dor nos ombros, é o cheiro de tudo em nada, é o gosto de nada em tudo, é o filme que está travando bem na luta do Luke contra o Lord Vader, é Märchenmond que eu não consigo terminar de ler, é a dissertação que tenho que escrever, é o remédio que já não faz efeito, é a dor de cabeça latejante...

É meu Sábado!

My Super Sweet Saturday

O capitalismo e seu lixo impensado

Produção, consumo, enriquecimento e livre concorrência. Sobre essas palavras o capitalismo contemporâneo se alicerça, e sob a bandeira desse mesmo capitalismo global as mazelas sociais e culturais nascem, crescem, e se espalham. Hoje fala-se sobre meios de produção "verdes", limpos, de baixa emissão de carbono e de outros gases poulentes, o lixo da indústria. Mas, devemos questionar se o significado da palavra lixo realmente é depreendido quando verbalizado na sociedade globalizada.

Por definição ele é tudo aquilo descartável, aquilo que não precisamos, o que é nocivo para nós. Logo à mente surgem ideias como poluição ambiental, lixo espacial, acidentes nucleares provindos de lixo atômico, lixões, que por vezes servem de centros de distribuição de alimentos aos menos favorecidos, entre outros conceitos. No entanto, preocupados com tantas formas de poluição, a humanidade se esquece do lixo primordial, o lixo cultural.

Por séculos o homem acumulou informações, acumulou sabedorias, técnicas, aprendizados, e consequentemente, lixos. O contato do homem americano com o homem europeu trouxe, sem dúvidas, muitas formas de progresso para o Novo Mundo, mecanização, especialização, filosofia, democracia; porém, há ainda outras marcas que persistem em nossa sociedade, como a exploração, desigualdade e preconceito. O lixo das ideias europeias.
No Rio de Janeiro há diversos meios de manifestação cultural, o carnaval, as artes, o samba, a arquitetura, mas, com todas as belas maneiras de se expressar, o carioca insiste em canções de depravação, de humilhação e de apologia ao crime. O lixo de nossa sociedade.

A palavra lixo, então, merece ser repensada, e as ideias de limpeza devem ir além de outdoors na cidade de São Paulo, ou da proibição de auto-falantes em algumas cidades do interior, e muito além de problemas ambientais oriundos da incessante produção capitalista. A palavra lixo deve ser associada mais do que nunca à palavra reciclagem, onde o que não for bom, o que sobrar da cultura do século XXI possa ser reaproveitado, repensado, "reculturizado", renovado.


É isso aí - ;)

17:28

Gripe tem gosto de nada, cheiro de nada, e ainda assim, se faz sentir.
Pois é, estou gripado.
E gripado permaneço aqui, entre cobertas e remédios amargos, quando deveria estar sentado em uma dura e desconfortável cadeira de madeira assinalando "X" em 5 possíveis opções.
A Fuvest se aproxima... E amanhã, com gripe ou não estarei lá, na dura ou macia cadeira, pensando em datas e cálculos.

A Fuvest se aproxima...

Mas ficar pensando nisso não leva a lugar algum, muito menos à tão anelada vaga em Jornalismo.
Jornalismo que aliás dia a dia parece se reinventar, a cada nova manhã há uma manchete diferente sobre o curso, o que me faz torcer para uma menor concorrência no fim do ano ( assim espero).

E falando em vestibular me lembrei de um texto que escrevi para a aula de redação, o tema era LIXO. Falar do lixo apenas como lixo era algo muito sem graça, por isso decidi dissertar sobre o lixo cultural. Postarei-o a seguir.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

He´s back! Hes´s back! Voldemort´s Back!

Depois de 3 eras geológicas afastado do Meu estranho mundinho insano, voltei!
Não é uma volta definitiva, afinal, ano de vestibular é uma coisa meio conturbada. Hoje, depois de muitas semanas finalmente tive uma tarde livre ( professores que viajam para a Espanha sempre são uma coisa boa). Na verdade não é uma tarde realmente livre, afinal, muitos me esperam em livros abertos: Marie Currier, Thomas Hobbes, Adam Smith, Calvino, Isabel, Gauss.... e todos os outros que ansiosamente me aguardam nos dias 15 e 22 de novembro.

O blog se tornará então algo semanal, ou não. Tudo dependerá do meu bom ( ou mau) humor, da minha disposição ( ou da falta dela), e da posição de Marte no céu.

Nesse pausa dramática de aproximadamente dois meses assuntos e mais assuntos se acumularam, e quando tudo tenta passar por uma passagem apertada nada sai, é como uma centena de pessoas se espremendo numa minúscula porta de metrô: ninguém entra, ninguém sai.

Mas isso não é nada realmente preocupante, cedo ou tarde, todos conseguem se organizar, e atravessam ordenada ou desordenadamente aquela porta metálica que fica aberta por muito pouco tempo ( isso é um protesto - Portas de metrô devem permanecer abertas por mais tempo), e o mesmo ocorre com as ideias. Eles se apertam, se comprimem, e no fim... se libertam.

Mas por hora, continuarei a escutar The Power of love - Oomph! ( não, não é uma música romântica), e viajarei pelas perigosas guilhotinas da Revolução Francesa, pois uma certa mosquinha, mestranda de História na USP me contou que esse será um dos possíveis assuntos da segunda fase em história.

Liberdade! Igualdade! Fraternidade! - e Guilhotinagem também!