domingo, 26 de setembro de 2010

Destroços

E ele parou
Na mesma esquina
Úmida
De pedra
Dura
Olhou ao redor
Para seu mundo desabando

Pedra a pedra

Ela se juntou a ele
No desespero
Na dúvida
E inquietação
Dançaram e choraram

Lágrima a lágrima

Eles correram por entre os destroços
Recolhendo pedaços de suas vidas
Pulando os muros da proibição
Contornando cercas da vergonha
E sangraram

Gota a gota

Nada fora como os sonhos
Os anseios e profundos desejos
Nada fora uma primavera de bailes
Ou um verão de alegrias
E quando finalmente perceberam o mundo ao redor
Ele caiu

Pedaço a pedaço

E tentaram fugir
Se esconder
Daquilo que eles próprios haviam criado

Sonho a sonho

Fugindo daquilo que haviam construído
Construíram aquilo que os havia destruído
Escolhas

Pararam então
Sobre as ruínas de seus ideais
E tiveram que escolher caminhos
Vidas
Mundos

Para, quem sabe, destruí-los novamente

sábado, 25 de setembro de 2010

A Beleza está no último lugar no qual a procuramos: No fim. Seja ele qual FLOR.

Caminho

De fome
No frio
Na noite
Ele morreu

Sozinho
Sangrando
Gritando
Implorando
Entregando cada pedaço
De sua alma rasgada
Por um momento mais

Vagou ruas molhadas
Pelas lágrimas que caíam
Não dele
Mas por ele
E seu destino

Machucava
Doía ver
Cada passo sobre os espinhos
De sua vida
Que se afundava mais
E mais
Na lama de suas escolhas

Antes de cumprir seu destino
Fatal
Ele parou numa esquina
Sorriu uma última vez
Chovia

E seguiu
Aquela trilha que até ali o havia conduzido
E ele sabia para que

Encolheu-se
Escondeu-se
E morreu
No cinza
Vagou
De sua existência
No frio
De sua vida
E ali permaneceu
Até a próxima vez

Além do homem, apenas homem

No quarto escuro
Vela acesa
Cama feita
Porta aberta

Um homem no meio
Um meio homem
Do quarto escuro

Uma chama queima
Não
Duas
Na vela
No homem
No quarto

Um espelho sujo
Um homem sujo
De vida suja
No quarto escuro

Um véu que cobre
Os olhos brancos
Mortos
Do homem do quarto
Escuro

Um medo no olhar
Um medo de olhar
Aquilo que ele se tornou

Uma chama
O chama
À morte
Ao fim
À luz

Um último olhar
O véu
O espelho
O homem
De olhos brancos
Mortos
Sujos
Homem

Queima, arde
Luz e nada
Além do véu
Além do espelho
Além do homem
Não há Além
Para o homem
Para ninguém

Arde,

Luz,

Queima,

Cinzas,

Fim.

E nada mais.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

4:22

Ele tinha todas as cores
E não tinha nenhuma
Ele dançava sob uma árvore
Uma ciranda da eternidade
Ele sorria
Ele odiava
Ele corria descalço na grama úmida
Sentia o ar gelado das montanhas em seus pulmões
E vivia

Ele perdeu todas as cores
E ganhou todas as outras
Ele parou, sentou, escutou
Ele deixou de odiar
Deixou de sorrir
Apenas se moldava
Ao que tinha de ser
Ele usava sapatos
Respirava cinza
E estava morto

Ainda o está

domingo, 19 de setembro de 2010

Forasteiro

Ele chegou.
Sem rumo, vendado, destruído.
Caminhou por essas nossas ruas. Em voz alta.
Comeu de nossa comida, bebeu de nossa água, dormiu em nossas camas.

Ainda vendado.
Riu de nossas caras.
Conheceu nossas mulheres.
Cuspiu nos mesmos pratos em que comera.
Pisou no rosto que, feliz, a ele serviu. Sirva-se de nós!

Ele se foi.
De olhos ainda fechados.
Com um riso fácil no rosto.
Debochando daqueles que não podiam ver.

Dos quais ele não fazia parte.

Atado

Não é hora
De fechar os olhos
De sonhar

Ainda não posso
Saltar esse abismo
Lançar-me por esse precipício

Não por não ter asas
Pois não quero voar

Não pela falta de coragem
Pois o desejo é maior

Não por medo
Pois há muito o perdi

Não me lanço por ter as pernas presas
Ambas
Atadas por uma corda
Que eu mesmo prendi

Preso por um nó
Dado por mim
Naquela noite de decisão
De caminhos
De escolhas

Tento lançar-me
Mesmo atado
Mesmo sem caminhar

Meu corpo não caíra
Eu sei
Mas minha alma,
Essa já se foi.

Quem?

Eu não sei...

Eu não sei...

Eu não sei, o que eu me tornei.

Nada é como um dia foi,

O vento não sopra na mesma direção,

As folhas não caem no fim do verão,

Meu rio não segue por entre as montanhas de meu destino,

O sol não nasce mais,

Já não vejo o luar,

Nem as nuvens do passado.

Eu já não sei...

Eu já não sei...

Eu já não sei por onde ir,

Que caminhos devo seguir,

Que montanhas escalar.

Eu não sei mais por onde voar,

Por não saber de quem são as asas,

Que carrego atrás de mim.

Eu já não posso mais correr,

Pois esses pés que me guiam,

Não são os mesmos que me trouxeram até aqui.

Eu já não sei quem eu sou,

Não sei pois no meu próprio caminho,

Aquele que desenhei para mim,

Eu me perdi.

Eu já não sei quem eu sou,

Pois não sei o que é saber.

E assim está melhor.