terça-feira, 28 de dezembro de 2010

No fim

E espero um dia, quando muito velho, sentar-me no alto de uma colina verdejante
olhar para todo o caminho de minha vida
e sorrir
não lamentar os erros
as perdas
os enganos e os infortúnios
não, não adianta lamentar
não voltarei outra vida para repara-los
quero apenas sorrir
de todas as bobagens
de todos os desvios
de todos os amores
de todas as perdas
pois no fim
a soma só dá um resultado
vitória.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Todo aquele que espera
Sabe bem o que virá.




A cultura é uma prisão, e somos as barras que nos encarceram.

Lost


Nós Cientistas Sociais somos confusos. E assim somos pois nos perdemos no labirinto do nosso objeto de estudo, a sociedade.
E deixamos num canto o bom senso, no outro a praticidade e num outro a lucidez.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sexta-feira

Sabem o que eu sou?
Sou a relva verde
O sol dourado
O caminho no qual piso
Sou a tristeza e a dor
Sou o pensamento
A manifestação
Sou também o outro
O homem ao meu lado
De rosto marcado
Velho
Triste
Sujo
Homem
Sou a mulher grávida
Negra
Linda
Mais homem que mulher
Sou a criança adormecida
Sou o caminho
A verdade
E a vida
Mas antes de tudo
Acima de tudo
Mais do que todas as coisas
Eu sou o erro
O meu e o seu

E sabem o que eu não sou?
Não sou a vergonha
Não sou o silêncio
Não sou você

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

De amigos, sorrisos e muita história

Faz tempo que não posto algo descontraído por aqui. Talvez porque não estivesse descontraído nos últimos tempos, ou talvez porque simplesmente a descontração não estivesse na moda em Paris.
Pois bem, voltei bem humorado pra cá hoje!

Há algumas horas atrás tive uma das minhas aulas preferidas do semestre: História Econômica Política e Social do Brasil, e o assunto da aula de hoje foi ciência, urbanização e saúde na primeira república.

Como a Unicamp é uma universidade paulista sempre lemos muitas coisas sobre São Paulo, e é engraçado ver autores tratando as terras do interior, as terras do Oeste, como Sertão.
E de tanto escutar essa designação na aula não me aguentei e tive que fazer o trocadilho com um querido amigo (Danilo Piaia) e deu no que deu:

Ser tão
Vazio
Ser tão
Sozinho
Ser tão
Vermelho
E verde também
Ser tão
Na dele
Ser tão
Parelho
Ser tão
À parte
Ser tão
Desastre
Ser tão
Sem arte
Ser tão
Sem graça
Ser tão
De vida
Sob o sol tecida
Ser tão...
Sertão!
Mas nunca
Certinho

-


Quando o escrevi hoje na sala muitos riram, mas alguns não entenderam algumas coisas, como por exemplo, as cores. Ao citar o vermelho e o verde faço uma referência ao café que moveria a economia daquilo que se chamava de sertão. O vermelho do solo, o verde dos vastos cafezais.
Espero que entendam o jogo de palavras que nao resisti fazer, sobre o que era o sertão, e sobre o que é SER TÃO.


sábado, 30 de outubro de 2010

(In)Sensível

Me chamam de insensível
Por nunca me verem chorar

Me chamam de insensível
Por não ligar pra causas universais

Me chamam de insensível
Por não dizer "Te Amo"

Me chamam de insensível
Por apenas ser quem eu sou

Me chamam de insensível
Me chamam de frio
Até de desumano

Não sou um nem outro
Apenas não vejo tudo ampliado
Não faço drama por nada
Simplesmente sinto tudo que os outros sentem
Mas em silêncio
E dentro de mim.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Existo, logo sonho

Eu faço da vida um sonho
No qual eu danço sob árvores
E corro campos verdes
Escondendo-me ora do sol
Ora da chuva

Eu subo montanhas
Eu durmo em cabanas
Navego mares sombrios
E amo a cada cais

Eu sou uma eterna criança
Numa roda sem fim
Num giro que dura o tempo
Que o tempo dura

Vivo sonhando
Pois prefiro isso a viver
Para sonhar.

domingo, 26 de setembro de 2010

Destroços

E ele parou
Na mesma esquina
Úmida
De pedra
Dura
Olhou ao redor
Para seu mundo desabando

Pedra a pedra

Ela se juntou a ele
No desespero
Na dúvida
E inquietação
Dançaram e choraram

Lágrima a lágrima

Eles correram por entre os destroços
Recolhendo pedaços de suas vidas
Pulando os muros da proibição
Contornando cercas da vergonha
E sangraram

Gota a gota

Nada fora como os sonhos
Os anseios e profundos desejos
Nada fora uma primavera de bailes
Ou um verão de alegrias
E quando finalmente perceberam o mundo ao redor
Ele caiu

Pedaço a pedaço

E tentaram fugir
Se esconder
Daquilo que eles próprios haviam criado

Sonho a sonho

Fugindo daquilo que haviam construído
Construíram aquilo que os havia destruído
Escolhas

Pararam então
Sobre as ruínas de seus ideais
E tiveram que escolher caminhos
Vidas
Mundos

Para, quem sabe, destruí-los novamente

sábado, 25 de setembro de 2010

A Beleza está no último lugar no qual a procuramos: No fim. Seja ele qual FLOR.

Caminho

De fome
No frio
Na noite
Ele morreu

Sozinho
Sangrando
Gritando
Implorando
Entregando cada pedaço
De sua alma rasgada
Por um momento mais

Vagou ruas molhadas
Pelas lágrimas que caíam
Não dele
Mas por ele
E seu destino

Machucava
Doía ver
Cada passo sobre os espinhos
De sua vida
Que se afundava mais
E mais
Na lama de suas escolhas

Antes de cumprir seu destino
Fatal
Ele parou numa esquina
Sorriu uma última vez
Chovia

E seguiu
Aquela trilha que até ali o havia conduzido
E ele sabia para que

Encolheu-se
Escondeu-se
E morreu
No cinza
Vagou
De sua existência
No frio
De sua vida
E ali permaneceu
Até a próxima vez

Além do homem, apenas homem

No quarto escuro
Vela acesa
Cama feita
Porta aberta

Um homem no meio
Um meio homem
Do quarto escuro

Uma chama queima
Não
Duas
Na vela
No homem
No quarto

Um espelho sujo
Um homem sujo
De vida suja
No quarto escuro

Um véu que cobre
Os olhos brancos
Mortos
Do homem do quarto
Escuro

Um medo no olhar
Um medo de olhar
Aquilo que ele se tornou

Uma chama
O chama
À morte
Ao fim
À luz

Um último olhar
O véu
O espelho
O homem
De olhos brancos
Mortos
Sujos
Homem

Queima, arde
Luz e nada
Além do véu
Além do espelho
Além do homem
Não há Além
Para o homem
Para ninguém

Arde,

Luz,

Queima,

Cinzas,

Fim.

E nada mais.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

4:22

Ele tinha todas as cores
E não tinha nenhuma
Ele dançava sob uma árvore
Uma ciranda da eternidade
Ele sorria
Ele odiava
Ele corria descalço na grama úmida
Sentia o ar gelado das montanhas em seus pulmões
E vivia

Ele perdeu todas as cores
E ganhou todas as outras
Ele parou, sentou, escutou
Ele deixou de odiar
Deixou de sorrir
Apenas se moldava
Ao que tinha de ser
Ele usava sapatos
Respirava cinza
E estava morto

Ainda o está

domingo, 19 de setembro de 2010

Forasteiro

Ele chegou.
Sem rumo, vendado, destruído.
Caminhou por essas nossas ruas. Em voz alta.
Comeu de nossa comida, bebeu de nossa água, dormiu em nossas camas.

Ainda vendado.
Riu de nossas caras.
Conheceu nossas mulheres.
Cuspiu nos mesmos pratos em que comera.
Pisou no rosto que, feliz, a ele serviu. Sirva-se de nós!

Ele se foi.
De olhos ainda fechados.
Com um riso fácil no rosto.
Debochando daqueles que não podiam ver.

Dos quais ele não fazia parte.

Atado

Não é hora
De fechar os olhos
De sonhar

Ainda não posso
Saltar esse abismo
Lançar-me por esse precipício

Não por não ter asas
Pois não quero voar

Não pela falta de coragem
Pois o desejo é maior

Não por medo
Pois há muito o perdi

Não me lanço por ter as pernas presas
Ambas
Atadas por uma corda
Que eu mesmo prendi

Preso por um nó
Dado por mim
Naquela noite de decisão
De caminhos
De escolhas

Tento lançar-me
Mesmo atado
Mesmo sem caminhar

Meu corpo não caíra
Eu sei
Mas minha alma,
Essa já se foi.

Quem?

Eu não sei...

Eu não sei...

Eu não sei, o que eu me tornei.

Nada é como um dia foi,

O vento não sopra na mesma direção,

As folhas não caem no fim do verão,

Meu rio não segue por entre as montanhas de meu destino,

O sol não nasce mais,

Já não vejo o luar,

Nem as nuvens do passado.

Eu já não sei...

Eu já não sei...

Eu já não sei por onde ir,

Que caminhos devo seguir,

Que montanhas escalar.

Eu não sei mais por onde voar,

Por não saber de quem são as asas,

Que carrego atrás de mim.

Eu já não posso mais correr,

Pois esses pés que me guiam,

Não são os mesmos que me trouxeram até aqui.

Eu já não sei quem eu sou,

Não sei pois no meu próprio caminho,

Aquele que desenhei para mim,

Eu me perdi.

Eu já não sei quem eu sou,

Pois não sei o que é saber.

E assim está melhor.

sábado, 7 de agosto de 2010

Senhora de Luar


Há muito tempo atrás comecei uma das minhas muitas histórias interminadas, e há muito tempo atrás postei a primeira parte de Senhora de Luar, uma pequena empolgação minha do fim do ensino médio.

Na época poucos gostaram do que leram, desanimei-me e não mais mostrei ao mundo o que seria a continuação daquela nova aventura. Digo apenas uma palavra então:

Mudança.

E se me permitem, digo outra:

Motivação.

Meu estranho mundinho Insano deve me odiar, pois no ano que ele mais esperava postagens eu o abandonei. E não mais fiz promessas de retorno. Afinal, eu nunca as cumpro.

Mas eis que eu um amigo, um dos novos, leu Senhora de Luar e gostou do que escrevi. E devo admitir, um elogio sempre me derrete. Essa é minha fraqueza.

Portanto aì vai a segunda parte do primeiro capítulo de uma aventura que comecei num dia em que minha mente voava entre amigos e amores, e entre os pinheiros e eucaliptos pelos quais nós nos divertíamos.



Capítulo 1
O Senhor do Sétimo raio
parte 2


A luz do sol ofuscou os olhos do menino que logo os tampou com a palma da mão virada para cima.
Sua cabeça parecia rodar. A última coisa da qual ele se recordava era do fogo consumindo tudo ao seu redor e dos gritos de Jaqueline que pareciam cada vez mais distantes.
O medo então o envolveu.
Por um instante ele se acreditou morto. Mas então Hórus sentiu o calor do sol acariciar sua face, sentiu a grama espetando sob seus braços, escutou o som de água corrente que parecia estar muito perto, e acima de tudo, o que lhe deu certeza de que a vida ainda pulsava dentro dele era a dor latejante em seu joelho esquerdo. Afinal, a dor é a mais viva das sensações.
Lentamente ele se sentou. Tentando se acostumar com a claridade piscou várias vezes franzindo o cenho.
O garoto estava num vasto campo de grama alta e com poucas árvores ao redor; como ele presumira pelo som, havia um riacho de água cristalina a menos de cinqüenta metros à sua direita; altas montanhas circundavam o horizonte dos dois lados, de modo que ele se encontrava em seu vale.
Helga e Lyn Costa estavam deitadas uma ao lado da outra, como se houvessem sido arremessadas de muito longe e com violência, cada uma numa posição mais improvável.
Hórus não reconheceu o local. Decididamente eles não estavam no bosque, e nem mesmo na sua cidade, não havia montanhas naquele estado, e as poucas de seu país estavam na fronteira com as nações vizinhas, e além do mais, o sol dali era um sol de primavera ou de verão, enquanto era princípio de inverno quando ele desmaiara.
Hórus se aproximou das meninas e chamou pelos seus nomes; preguiçosamente elas despertaram e pareceram compartilhar da mesma sensação de tontura e de susto quando abriram os olhos.
- Onde estamos? – perguntou Lyn Costa, - como saímos do bosque?
- A última coisa da qual me lembro era de estar rodopiando em meio às chamas – disse Helga.
- Estou tão confuso quanto vocês duas, não me perguntem nada – exclamou Hórus. – parece que fomos retirados do bosque, mas, porque não estamos em um hospital?
- É estranho – comentou Lyn Costa analisando a paisagem – creio que devamos procurar alguém.
- Procurar alguém? Onde? – respondeu Helga secamente, apesar de ainda tonta – Você vê alguma casa por aqui, por que eu sinceramente não vejo para onde devamos ir. – o tom de Helga não era agradável, o desespero parecia ter se apoderado muito rapidamene dela. E além disso as duas meninas jamais se relacionaram muito bem.
Lyn pareceu querer responder, mas Hórus as interrompeu:
- Parem com isso vocês duas. Eu concordo com você Lyn, devemos procurar alguém, afinal, se ficarmos aqui não se sabe se alguém virá nos resgatar.
- Venci – disse Lyn Costa a Helga com seu tom insuportável. Mesmo em situações adversas as garotas não deixavam de tentar se provarem melhores do que a outra.
- Não era uma disputa – respondeu sensatamente Helga (embora quisesse ter vencido).
- Não importa, competindo comigo ou não, eu fui a vitoriosa.
- Você é patética Lyn.
- Garotas, não é momento para briguinhas idiotas, guardem seus fôlegos para uma eventual fuga. Afinal, nunca se sabe quando teremos que correr. – riu-se Hórus.
- Já que vocês dois querem tão avidamente correr por esta cidade desconhecida, digam-me, para onde pretendem ir? – perguntou Helga
- Ora, a resposta é simples. A meu ver, devemos seguir o curso desse riacho, afinal, a chance de encontrarmos civilização é maior. – respondeu Hórus estendendo o braço direito na direção da água. Havia algumas árvores em toda a extensão da torrente.
- Só um lembrete – Helga parecia contrariada – isso aqui não é um filme muito menos um desenho de aventuras. Suas soluções milagrosas não funcionarão conosco.
- Fique quieta e siga o líder – intrometeu-se Lyn Costa.
- Líder?! – revoltou-se Helga – quem o elegeu líder?
- Eu. – respondeu a outra menina.
- Eu voto em mim mesma, - protestou Helga – É um empate.
- Seu voto vai pra quem meu caro? – perguntou Lyn Costa abraçando Hórus pela cintura e acariciando-lhe a barba.
- Bem, analisando as alternativas, creio que não me resta muitas opções. Meu voto vai para mim mesmo.
- Caso encerrado, - Lyn Costa aproximou seus lábios dos de Hórus e o beijou.
- Lyn, prometo-lhe que quando chegarmos à cidade eu te apresento uma prostituta, ou melhor, um cafetão; mas por enquanto, contenha-se – ridicularizou-a Helga que estava vermelha.
Hórus riu, entretanto afastou a menina dele.
Os três seguiram o curso do riacho. O terreno ali era pedregoso e um pouco escorregadio. Para onde eles olhassem viam verde. Grama alta e umas poucas árvores de copas baixas compunham a paisagem monótona que era quebrada pelas montanhas cinza de picos brancos mais distantes.
Caminharam, caminharam e caminharam.

Decidiram descansar quando o calor tornara-se insuportável.
Pela altura do sol, Helga calculou que deveria ser por volta do meio dia, e seu estômago dizia o mesmo.
Por sorte, as árvores em volta do curso d’água eram em sua maioria frutíferas. Pararam então sob a sombra de uma frondosa macieira, colheram as frutas que estavam mais baixas e sentaram-se com os pés à margem do riacho.
Descansaram um pouco, pois já estavam caminhando há quase uma hora. Despiram-se dos seus casacos sem entretanto os dispensarem, afinal, se continuassem vagando durante a noite, uns agasalhos seriam muito úteis.
Apesar de não serem tão saborosas, as maçãs caíram-lhes como um banquete, e, após comer a quinta Hórus encostou-se no tronco de uma das árvores e adormeceu. Helga seguindo o exemplo do amigo deitou-se em seu colo e em pouco tempo estava sonhando com sua macia cama e seu quente cobertor. Apenas Lyn Costa manteve-se desperta. Havia alguns peixinhos coloridos nas pedras do rio de água limpa, podia-se ver tudo que se passava naquela fraca correnteza, e a garota se divertia brincando com eles.
O silêncio que ali pairava parecia sepulcral, não havia nenhuma ave ou inseto em muitos quilômetros. E ao contrário do que se espera de um campo de grama verde, não havia nenhum veado ou cavalo por toda aquela imensidão; nem mesmo formigas ou cupins pareciam fazer parte daquele lugar.
O céu estava irritantemente azul, não havia nuvens em toda orbe, sequer um rasgo de branco no céu, e, portanto, nenhum sinal de chuva.
O estranho era que para além das montanhas a paisagem parecia completamente distinta. Pouco além dos picos nevados podia-se ver ameaçadoras nuvens que pareciam carregadas de chuva, e, mesmo sem ter certeza, Lyn sabia que ao longo ou depois daquele vale havia vida, havia um cidade, e uma estrada que a levaria para casa, para junto de seus outros amigos que poderiam estar em qualquer lugar, até mesmo ainda presos naquele terrível bosque.
Repentinamente os pensamentos da menina foram interrompidos, suas pálpebras caíram e sua visão e audição subitamente pareceram desaparecer. O mundo girou e ela sentiu-se caindo no vazio, como se o chão houvesse se aberto sob seus pés e a imensidão escura do vácuo a dominasse. E aquilo parecia eterno, um caminho constante rumo ao nada, uma tortura sem fim, um devaneio, um sonho real

sábado, 10 de julho de 2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Máscara

É incrível o que fantasias e algumas máscaras podem causar às pessoas. Depois de ontem, me parece que num baile à fantasia deixamos que um lado nosso, que muitas vezes mantemos escondido, se liberte, saia a tona e dance até o amanhecer.

Certa vez um caro amigo disse-me que quando nos fantasiamos escolhemos nos vestir de acordo com nossos desejos sexuais, pois essa é uma das poucas oportunidades que temos de expô-los em público sem chamar demasiada atenção,pois afinal, todos estão fazendo o mesmo. Se essa teoria se mostrar verdadeira, entenderei o excesso de rabos e chifres, e a ausência de panos nas roupas mesmo em uma noite muito fria.

Pernas de fora, decotes abusados, saias que nada tampam, espartilhos vermelhos (ou verdes) que chamam toda a atenção, músculos forçados à mostra, compõem a paisagem de uma festa na qual nada é proibido. Você pode ser um menino que se transforma em menina, você pode ser uma abusada dançarina Moulin Rouge com todas as penas coloridas que seduzem qualquer homem; você ainda pode ser um ursinho carinhoso carente por um abraço, ou uma gueixa, que, por trás de toda discrição pode esconder coisas inimagináveis.

Eu, por minha vez escolhi vestir uma máscara, e nada mais especial. Deixei de lado as fantasias grandes e engraçadas, ou as bonitas e clássicas, e mesmo aquelas que sempre podemos criar em casa. Não, nada disso parecia se adequar ao que eu realmente queria, até porque eu ainda não sabia o que queria. Então, o que poderia ser melhor que uma tradicional e sugestiva máscara?

Claro que não era difícil me reconhecer, e aqueles que diariamente convivem comigo não exitavam em dizer meu nome logo na primeira vez em que me viam. E hoje, recordando todos os encontros e desencontros da noite de ontem, todas as insinuações, tenho a impressão de que minha singela máscara tornou-se símbolo de algo que eu ainda não sei definir o que.

Desde minha infância as pessoas me contam muitas coisas, não sei o motivo de toda essa confiança, mas se é assim, que assim seja então. E ontem, parece-me que ao me olharem muitos não resistiram ao impulso de logo me contar algo ou demonstrar algo.

Devo dizer que muito ouvi, de muito ri, e por vezes me encontrei boquiaberto com os acontecimentos. E tenho a impressão de que tornei-me esse depósito de segredos devido ao poder da máscara. Claro que ela não é um objeto mágico, porém isso não quer dizer que o objeto não possa fazer nenhuma mágica

Quem sabe ao me olharem e verem apenas parte de mim essas pessoas tenham pensando que eu não era realmente eu ali, mas apenas um pouco do todo, e que, ao tirar a máscara, o passado, o contado e compartilhado iria ser esquecido, iria ser guardado até o próximo baile.

Pois afinal, na nossa cultura as máscaras sempre representaram muito, e, na minha opinião, elas representam mistério acima de todas as coisas. Elas podem representar novas possibilidades, novas descobertas, novas realidades, pois mascarado, não se é facilmente reconhecido, então pode-se muito bem fazer aquilo que se deseja mas que não pode ser feito.

E devo dizer que não esperava descobrir tantas possibilidades e novas realidades, o que não quer dizer que não tenha gostado de descobrir tanto. Algumas descobertas simples, contadas ao pé do ouvido, outras não sendo realmente contadas, mas demonstradas com enlaçamento de mãos que ainda não sei onde poderia me levar, outra ainda, e essa foi minha descoberta predileta, foi dita não com palavras, mas sim causando-me arrepios que ainda posso sentir, mesmo depois de tantas horas.

E agora, no dia seguinte, creio que todos tenham acordado como eu, sentindo como se tivessem vivido um sonho belíssimo no qual dançávamos uma dança de mistérios, onde ser o que se é convencionalmente é o não convencional, uma misteriosa noite de mascarados, que desejávamos não ter fim. Porém ela teve, e por vezes fui desperto com mensagens no meu celular, todas dizendo a mesma coisa: "Guarde o nosso segredo."

Sim meus caros, os guardarei com muito prazer e divertimento, porém jamais os esquecerei. Especialmente alguns que particularmente me agradaram, particularmente aquele que ainda me arrepia os pêlos da nuca, aquele que me fez ansiar pela próxima noite de fantasias, pois nada foi melhor do que ser a máscara que outros queriam colocar.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pensando na saudade

Quando me mudei de cidade e de vida, imaginei que fosse passar muito mais tempo no blog do que passava antes. O que não ocorreu.

Ao notar que minha última postagem aqui foi no dia 24/03 bateu uma certa vergonha. Essa não foi a primeira vez que abandonei de certo modo o Meu estranho mundinho insano, e não só ele, bem como os outros blogs. Às vezes me pergunto se realmente estou pronto, ou se realmente posso seguir o mundo das palavras, pois sequer consigo manter uma regularidade por aqui. Imagine então levar as letras como meio de vida.

O engraçado é que, posso passar um, dois, três meses sem escrever nada por aqui, e quando volto, sinto-me como se nada tivesse ocorrido, como se a última postagem tivesse sido ontem. E são nesses momentos que reafirmo meu caso de amor com as ideias, com os pensamentos e com sua manifestação escrita.

Sinto muita saudade da época em que podia ficar em casa o dia todo postando duas ou três vezes em menos de 24hs. Porém não posso querer retomar uma realidade que já não é mais real. Preciso me adequar ao novo estilo de vida, e contar por aqui o que anda ocorrendo, e mesmo porque ando tão afastado.

Por mais de uma vez prometi não abandonar o Meu estranho mundinho. E acabei por não cumprir com a minha palavra. Portanto, dessa vez não direi que estou de volta com força total como um Power Ranger. Não. Dessa vez direi que é muito bom poder estar aqui, e que é muito triste eu esquecer do prazer de escrever.

Só digo uma coisa: fiquem de olhos abertos, pois hora ou outra, estarei com minhas amigas letras por aqui.

quarta-feira, 24 de março de 2010

É inevitável, uma criação puxa a outra

Sempre que percebo que alguma coisa que faço vai ganhar vida própria eu reservo a ela um espaço próprio. E isso mais uma vez aconteceu.

Há muitos meses, numa noite alucinadamente febril, na qual escrever foi a única solução que encontrei para tanta dor e suor, comecei algo que deixei incompleto, esquecido por muito tempo. Era a dura época de cursinho, na qual eu tinha de decorar fórmulas que, ainda continuo a afirmar, não me servirão de nada.

Passado. E que seja sempre assim.

E hoje, quando menos esperava senti novamente o chamado pelo qual eu sempre aguardo. Um chamado tão intenso que me impede de dormir, mesmo que eu esteja madrugada adentro. O chamado das palavras. Palavras que querem se libertar de mim.

E nessa vontade de ganhar o mundo, elas me conduziram de volta àquela noite de febre, e ao meu amado Três Quartos, que por mais esquecido que estivesse ainda vivia dentro de mim.

Sinto que é chegada a hora deu continuar do ponto onde parei e concluir o que comecei. Abrir ou fechar definitivamente aquela porta, amarela no corredor, e marrom-avermelhada por dentro. Cor de terra e sangue.

Portanto, após escrever o que por meses mantive encarcerado, decidi criar um outro blog. Pois o Meu Estranho Mundinho funciona como uma grande mãe, que gera filhos e mais filhos. Alguns por aqui permanecem. Outros, amadurecem tanto, que logo saem do lar original.

E assim nasceu o Tr3s Quartos, um espaço único para aquele reino de poeira e delírios, de homens sozinhos e espelhos manchados.


Convido todos a abrirem a porta, sem deixar muita luz entrar, e penetrar numa terra de papel e imaginação. Com um cheiro de pizza, e algum mofo.

Três Quartos - III

A chama ardia. Dançava entre seus dedos e queimava levemente sua frágil pele. Não havia muito a se ver por ali: uma cama suja, com um lençol revirado e rasgado, livros espalhados por todo o quarto e pedaços de papel, provavelmente anotações desperdiçadas. Havia também um espelho, um pouco sujo e velho. O homem aproximou-se do espelho, passou o punho esquerdo por ele esperando que assim pudesse enxergar melhor. E enxergou. Não a si mesmo, mas ao outro homem que ali no quarto estava sentado.

O homem trabalhava num fórum. Nos arquivos subterrâneos e empoeirados, cheio de traças, aranhas e doenças respiratórias. Lá ele desperdiçava um terço do seu dia, lendo coisas inúteis e organizando a vida de outros, enquanto a sua estava uma bagunça.

Há três anos terminara com sua namorada, ou melhor, sua noiva. Todos eram felizes até então. Ele era um bom advogado, trabalhava pouco, ganhava muito. Sua companheira uma médica bem sucedida. Pediatra. Eram donos de uma grande casa com três carros na garagem. Comiam o melhor que o dinheiro podia pagar, vestiam-se da maneira mais elegante que podiam. Eram ricos.

A visão de outra pessoa naquele cômodo o assutou de modo tão intenso que suas mãos não suportaram segurar mais o isqueiro, e as trevas cairam sobre seus olhos.

O casamento estava marcado para dali a cinco meses. Seria em junho, num lugar frio, numa serra em meio a pinheiros e música clássica. Sua noiva estava grávida, a criança nasceria no calor de janeiro, e enquanto os meses de inverno não chegassem, a noiva se recuperaria do parto, que sempre deixa as mulheres fragilizadas.

A gravidez sem dúvida alguma estreitou e muito o laço entre o casal. Eles experimentaram amor de verdade pela primeira vez, pois havia algo que os unia, algo que para sempre os ligaria. Ser pai, ser mãe, dera tanto sentido a vida dos dois, e tomara tanta importância naquela relação que ambos deixaram de viver para si próprios, e passaram a depender daquela nova existência.

O homem não se movia. Sequer respirava. Pela segunda vez na sua vida sentiu-se perdido, sozinho, ameaçado e nu diante de um outro que detinha todo o poder no jogo. No silêncio ele escutou uma respiração que lentamente se acelerava, como um lobo que se prepara para o ataque, deixando a adrenalina correr lentamente pelas suas veias.

E o líquido desceu, e junto com ele sangue. A mulher entrara em trabalho de parto, porém algumas complicações pareceram surgir no último dia de gravidez, e a corrida alucinada ao hospital se deu. Mas não foi o suficiente. Entre sujeira, sangue e dor havia morte. A criança nascera sem vida.

Lágrimas correram pelas faces tanto do homem quanto da mulher. Eles esperavam tanto pela vida que gerariam, pelo filho que chamariam deles, pelos risos, pela alegria. Nada os faria mais felizes, tão completos, unidos. E a morte que desceu pelas coxas trouxe consigo outro fim. E em poucos meses cada um seguia seu caminho: a mulher buscava outra vida, o homem, nada mais queria.

"Eu o estava esperando, me perguntava se você realmente viria" - uma voz masculina no quarto escuro se dirigira ao homem. Esse por sua vez novamente estremeceu. Aquele som, aquela voz, era tão familiar, tão aconchegante e ao mesmo tempo ameaçadora. Ele temia.

Morte. Não só para seu filho, ou para seu relacionamento, mas também para ele. Sua vida perdera o sentido. Os casos no escritório de advocacia eram passados a outros colegas, trabalhar não fazia o menor sentido, conviver com outras pessoas muito menos. A alegria passou a fazer parte de um passado distante, e os planos de felicidade foram enterrados juntos com o bebê num caixão branco. Morte.

O homem no quarto, assustado, abaixou e começou a tatear o chão a procura do seu isqueiro verde. Ele não estava ali, teria rolado para longe? Estaria sob algum móvel ou roupa suja?

Ele vendera seu carro, a casa, sua esposa ganhou judicialmente, suas roupas foram vendidas e renderam-lhe uma boa quantia, afinal, ele só vestia o melhor. Seus pertences foram encerrados num galpão que ele alugara por um ano, próximo ao porto.

Precisava de um lugar, um teto para dormir. Os hotéis caros estavam foram de cogitação, pois ali ele esbarraria a todo momento com rostos conhecidos, e o que ele menos precisava no momento era de palavras amigas e de consolo. Ele queria o isolamento, uma vida diferente.

No quarto o homem escutou um ranger, provavelmente de uma cadeira. E novamente temeu.

Conheceu então os bairros pobres, imundos e prostituídos. Corpos sujos se esfregando, repletos de doenças e imundícies. E a miséria era incomparável. Ele jamais imaginara o que significava pobreza, agora sentiria isso na pele. Não que fosse pobre, mas ali decidira recomeçar. Ou pelo menos tentar.

E assim conhecera aquele cortiço, de quartos baratos e encardidos. Repleto de portas iguais e muitas sem numeração, o que sempre o confundia. Sua figura era estranha para os moradores dos subúrbios, pois apesar da negação à antiga vida, sua pele clara e seu cabelo liso aliado aos seus olhos claros denunciavam sua origem. Pois naquela cidade, a cor dizia muito sobre as pessoas.

Morte. Seu filho morrera e com ele a antiga vida.

Luz.

Trevas. Para as trevas ele se retiraria até que a vida voltasse a fazer sentido.

Um brilho. Atrás do homem que temia olhar pro espelho e enxergar de onde aquilo vinha.

Dor. Perdera tudo o que tinha, sua amada mulher, aquela que ele escolhera para o resto da vida.

Mas não pode evitar e viu.

Silêncio. Era tudo do que precisava naquele momento, no qual toda palavra soaria como o som de uma lâmina rasgando lentamente a pele.

O outro homem estava sentado numa cadeira de madeira no outro canto do quarto. As pernas juntas e coladas ao chão, vestindo um terno preto extremamente amassado. Na sua mão direita segurava um isqueiro verde, o isqueiro do homem, que iluminava o quarto.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A verdade é um espelho que se quebrou, e cada um pegou um pedaço

Há poucos dias tive uma conversa com um amigo sobre diferenças culturais que me deixou muito inquieto. A ponto de levar a discussão a outros círculos de amizade, e o assunto não foi menos polêmico.

Tudo começou quando li uma reportagem que tratava da proibição da homossexualidade em Uganda. Sim, proibição. Aquele indivíduo que fosse incriminado sofreria duras penas, até mesmo de morte.

Para nós ocidentais, e especialmente brasileiros, isso soa como algo terrível, que fere os principais direitos humanos, é um assunto particular, e deve ser tratado como tal. Logo, nos vem à mente frases como "A África realmente tem sociedades atrasadas". E essa frase ficou ecoando na minha cabeça por dias.

A discussão ainda levantou outros tópicos como por exemplo, a mutilação das meninas de certas regiões africanas, que jamais saberão o que é o prazer sexual. Atos como esse só reforçam a ideia de que aquele povo sofre as dores de um grande atraso, socio-cultural, que impede que a felicidade e a igualdade reine por aquelas terras.

Mas então me vem a pergunta: Quem somos nós para afirmar que a África tem sociedades atrasadas? E se tiver, qual é a sociedade evoluída que vai avaliá-la? A nossa?

Por mais que eu defenda os direitos dos homossexuais, das mulheres, e de qualquer outro ser humano, creio que devo ser mais cuidadoso ao avaliar certos casos. Se Uganda quer proibir os relacionamentos homossexuais, certamente há um porquê, uma justificativa, e uma razão pela qual o povo daquele país julga relações com pessoas do mesmo sexo como algo negativo.

É difícil dizer isso, mas, se um povo decide por um lado, o que podemos fazer para mudar essa realidade? Impor mais uma vez nosso modelo cultural ao outro, ao africano? Vale a pena lembrar que, essa imposição, essa intromissão dos valores europeus naquele continente é sem dúvida o grande responsável pela realidade daquelas pessoas que sofrem as mazelas da pobreza, guerra e medo.

Talvez, se as nações mais poderosas não tivessem esse ímpeto de sempre se intrometerem nas questões externas, no andamento de um outro Estado, as coisas fossem muito diferentes. Se o cristianismo europeu não tivesse alcançado Uganda, talvez ser homossexual fosse algo natural para a população daquele país.

Todo povo e país é soberano, pelo menos é assim que eu vejo o mundo. Nós como brasileiro temos essa ideia embutida dentro de nós, porém em algum canto escuro da nossa mente, pois se tratando de nossa Amazônia por exemplo, não hesitamos em dizer "A floresta é nosso, assunto nacional, não se intrometam". Porém, quando somos nós que apontamos os "defeitos" nos outros, tudo fica muito simples.

Não venho aqui dizer que sou a favor de pena de morte aos homossexuais em Uganda, muito menos defendo a mutilação das meninas - pobres meninas - que farão sexo apenas para procriação.

É difícil ser neutro nessas situações, eu mesmo não sou. Pois se pudesse mudaria essa realidade na qual as garotas e os gays vivem. Porém, o que faria? Provavelmente tentaria encaixá-los na realidade do Brasil, um lugar que para mim é bom, me faz sentir bem.

Essa é minha realidade. Minha verdade. Se um europeu a criticar e tentar me tirar do meu mundo, não ficarei contente com ele. Pois não quero uma visão de mundo diferente da que eu tenho, pois a vejo como a melhor. E estou feliz inserido nela.

Então, antes de pensar em mudar a realidade de um outro povo, devemos primeiro refletir, e nos questionar se aquele povo pretende a mudança. Ou estarão eles satisfeitos com a vida que levam?

Hoje ouvi uma frase muito interessante: "Para que se construa os direitos universais, será necessário destruir as culturas locais". E é isso que estamos fazendo. A humanidade sempre o fez. É só olhar a nossa volta e percebemos isso. Éramos uma terra de pagãos, hoje somos um bom país cristão, do jeito que os jesuítas desejavam. A verdade que vieram aqui plantar.

Encerro com um provérbio que curiosamente acabo de receber via orkut de um amigo:

"A verdade é um espelho que caiu das mãos de Deus e se quebrou. Cada um recolhe o pedaço e diz que toda a verdade está naquele caco."

Ditado Iraniano

Não devemos buscar conceitos universais de cultura, sociedade e comportamento, pois isso nada fará além de destruir povos e engolir costumes seculares, por vezes milenares. Não devemos buscar verdades eternas construídas com base nas diferenças, e nos conflitos entre povos, mas sim assimilar o que de melhor há em cada comportamento, e assim cultivar as diferenças, que é uma das melhores coisas que temos.

sábado, 20 de março de 2010

Ah, a Fantasia

Quando criança eu me indagava se, ao crescer, ainda iria gostar de livros sobre fantasia, trilha sonora de filmes e de sonhos. Eu dizia a mim mesmo que sim, pois envelhecer não tem que significar mudar, embora não tivesse nenhuma certeza quanto a isso. Deveria ter.

Hoje, almoçando no shopping não pude deixar de passar numa livraria, um dos lugares nos quais me sinto bem, como se nada além de livros existisse no mundo; seria feliz assim. E dentre as diversas colunas repletas de histórias e conhecimentos, sempre acabo me dirigindo para as prateleiras entituladas "infanto-juvenil". Na qual há heróis, donzelas, grandes vilões e felicidade eterna escondida dentre aquelas páginas secas.

E curiosamente me peguei lendo Alice no país das maravilhas, uma história que todos, inclusive eu, conhecem de ponta a ponta, de trás para frente. Porém, não me canso de abrir aquela publicação e encontrar um mundo de fantasia e de sonhos, no qual penetro e se pudesse, não sairia mais.

Ah, a fantasia. Sinceramente não sei o que seria de mim sem ela, o que eu pensaria, como eu agiria. Metade do que eu sei e sou provém dos livros, e ter sido um adolescente silencioso que não mantinha a cabeça em outro lugar, senão em realidades irreais, me protegeu de diversos perigos que surgiram no meu caminho.

Seja em Nárnia, na Terra-Média, em Hogwarts...seja onde for, lá eu estava sendo preparado para a minha vida adulta, na qual eu não posso me ausentar por muito tempo da realidade. Pois fechar os olhos e sonhar pode ser arriscado.

Mas não lamento, vivi longas eras em terras longínquas, sem ter que enfrentar o mundo real, e agora que o tenho de fazer, sinto-me protegido por todos aqueles deuses e seres fabulosos, que hoje vivem dentro de mim, e se manifestam nos meus momentos mais duros. Aqueles momentos nos quais não posso recorrer a criança silenciosa que eu era, e que ainda posso sentir, vivendo em algum lugar da minha existência. Entre livros empoeirados.

sexta-feira, 19 de março de 2010

De um lado e de outro

Há pouco a ONU divulgou mais um dos seus relatórios sociais, nos quais o Brasil, tradicionalmente, figura nas piores posições.

Os dados atuais dizem respeito às cidades com maior desigualdade social do mundo. Dentre elas, estão Goiânia, Fortaleza, Belo Horizonte e Brasília (sim, a mesma Brasília de IDH elevado). A divulgação dessa informação para nós brasileiros não chega a fazer cócegas, pois não precisamos de números de orgãos internacionais para conhecermos a realidade dos centros urbanos do nosso país, que a cada dia tornam-se mais ricos e mais pobres. Mais desiguais.

É claro que desigualdade social não é um (des)privilégio de países subdesenvolvidos, pois cidades como Washington D.C figura dentre aquelas cujo abismo entre as classes altas e baixas é mais profundo que o Grand Canion. Porém, em nações como o Brasil, esse problema toma proporções muito maiores que nos E.U.A por exemplo, uma vez que ser pobre por aqui, muitas vezes significa estar fadado a uma vida de privações com um futuro sem muitas expectativas de mudança.

No Rio de Janeiro por exemplo, uma das maiores reclamações dos jovens é quanto a educação técnica que o governo estadual lhes oferece. Pois não gera reais resultados com retorno financeiro. Empregos, em uma palavra.

De qualquer modo formar massas de técnicos alienados para trabalhar em multinacionais já é um grande erro desse país; porém, pelo menos de um emprego digno os jovens necessitam, uma vez que educação de verdade, baseada em ideias e no pensamento o governo não oferece.

E dentre o ruim e o pior, parece que tem-se eleito o pior, pois além de alienados, agora os jovens também andam desempregados. E no que isso resulta? Em mais uma geração de pobres.

Às vezes eu me indago: "Afinal, para que serve essas pesquisas da ONU? Para mostrar ao mundo desenvolvido como é dura a realidade dos pobres amigos do Sul?"

Desconfio que sim. Pois não é de hoje que nosso país é alertado quanto os problemas sociais que enfrentamos, e não tenho notado muitas mudanças nos últimos anos.

Disseram-me que a população da favela decaiu 16% nos últimos 10 anos, e que a classe média representa 51% do povo do Brasil, e que a luta pela desigualdade social vem gerando resultados, e resultados expressivos.

O engraçado é que fora da tela deste computador, não consigo enxergar essa mudança que nosso amado PT tem proclamado há oito anos. Pois a cada vez que pego um ônibus, trem ou metrô, deparo-me com uma realidade muito semelhante a essa apontada pela ONU: de um lado da janela do coletivo vejo um conversível vermelho, do outro, uma favela vastíssima, que se perde no horizonte. Nesse tal país de todos.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cedo ou tarde, sempre voltamos

...

É estranho como esse blog transmite fielmente meus sentimentos. Quando tenho ódio, meus textos são mais perigosos que um cão raivoso. Quando estou apaixonado, essa página fica mais melada que criança com chocolate. Quando estou feliz isso daqui parece uma manhã primaveril. E, quando estou recluso, introspectivo, preocupado com meu caminho ou angustiado, as coisas aqui ficam como eu: silenciosas.

E no silêncio o blog ficou por muito tempo. Talvez porque eu tivesse que estudar para o vestibular, talvez porque eu tivesse provas na escola, talvez porque eu sentisse que muitas coisas iriam mudar, talvez porque eu simplesmente não quisesse escrever.
Não importa.

Muitas coisas mudaram desde a última vez em que postei algo aqui. Lembro-me do dia como se ainda fosse hoje. Chovia, eu estava feliz. Hoje está frio, e feliz não é um adjetivo que usarei para essa noite.

Começar uma vida nova numa cidade nova está sendo uma experiência tão única, tão intensa, que até outro blog surgiu disso, o 3 folhas. Porém, prometi a mim mesmo que jamais abandonaria o Meu estranho mundinho insano. O sinto como se fosse um filho, ou uma parte de mim que deposito na internet a cada vez que deixo minhas palavras aqui registradas.

Quando criei esse blog, pensava em falar sobre mim. Porém, comecei falando sobre coisas, depois sobre pessoas, sobre literatura, sobre o mundo. E então me perguntava: "onde estou eu nessa história? Não deveria ser afinal, o MEU estranho mundinho insano?"

Talvez essa também tenha sido uma das razões do meu afastamento. Talvez não. Isso também não importa.

O que importa é que, percebi que não falando de mim, eu escrevia exatamente sobre meus sentimentos e opiniões. Eu me escondia entre adjetivos e adverbios, exclamações e pontos finais, acentos agudos e circunflexos

E talvez por finalmente ter entendido de que maneira estou inserido e faço parte desse blog, é que senti uma necessidade muito grande de voltar a habitá-lo, e a dividir com quem quiser ler, minhas experiências

Experiências essas que eu mesmo já achei bem entediantes no passado, mas que tenho certeza, de que a partir desse texto, não serão mais

I´m back, e dessa vez, para não mais partir.

Retornando de muito distante

Mesmo tendo ficado tanto tempo longe, eu não me esqueci do Meu estranho mundinho, e decidi retomar as atividades por aqui hoje.
Então, vou começar postanto um miniconto antigo, creio eu que seja de 2007, ou 2006, uma época em que eu ainda sonhava com inúmeros futuros e tinha muito tempo livre para escrever.

O amor deles é o título desse texto. De quem é o amor, não sei. Pode ser seu se quiser, eu dou o total direito de pegá-lo emprestado.


O Amor deles

Os dois desceram as escadas juntos, um mal reparando na presença do outro. Não sabiam, mas ambos seguiam para o mesmo lugar; seria o destino ali agindo?Logo eles entraram num corredor vazio, então notaram-se pela primeira vez. Observaram-se e avaliaram-se pelos cantos dos olhos; sabiam que um fazia o mesmo que o outro, e isso agradava-os.Detiveram-se então à porta de um velho apartamento, um notando a intenção do outro; mantiveram-se imóveis.Trocaram então olhares, e sorriram. Naquele momento já estava feito, mas eles não sabiam.Uma terceira pessoa apressada abriu caminho entre os dois entrando no apartamento; eles seguiram-na.Já não importava o porquê de estarem ali, um queria apenas conhecer o outro, e nada mais.Conheceram-se por fim, e apaixonaram-se. Sim, pois a paixão precede o amor, se houver amor é claro.A paixão é como um bebê, e o amor é o adulto, se a criança sobreviverá aos contratempos do caminho, ninguém pode saber.Mas nesse caso a paixão sobreviveu, e tornou-se amor.Mas não foi fácil, pois o amar nos dias de hoje quase não é permitido. Perdeu-se o verdadeiro sentido do que é amor.Amor é amor. Independe de opinião, aprovação ou aceitação. É apenas o singelo e maravilhoso amor.Mas aos dois não foi permitido amar. Diziam-nos imcompatíveis, não acreditavam naquele sentimento, e como era de se esperar, deram-lhes as costas.Mas o amor falou mais alto. Eles amavam-se e era isso o que realmente importava, era apenas os dois e nada mais fazia sentido na vida.Amaram-se então, sozinhos mas juntos. Deixaram para trás todos aqueles que lhes criticaram, esqueceram-se daquela vida vazia que levavam, pois para os dois a vida começou naquela tarde quando mal haviam notado um ao outro.O amor enfim venceu! E as pessoas finalmente acostumaram-se aos dois, não aceitavam aquele sentimento, mas respeitavam-no.E era apenas isso que eles desejavam: Liberdade para estarem um ao lado do outro, e respeito, para seguirem seu caminho com dignidade.