quinta-feira, 30 de julho de 2009

E assim começa...

O plano inicial não era publicar aqui, mas vi que não haverá outro meio.

Não sou muito bom com sinopses, portanto mandarei a história diretamente (:
Talvez atualize diariamente, talvez não. Mas para os próximos dias de gripe, há texto suficiente!


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Senhora de Luar
J.P.L.Campos
Capítulo 1
O Senhor do sétimo raio

Era pouco mais de uma da tarde quando os oito garotos se encontraram no portão dos fundos do colégio. Era inverno e havia uma fina camada de neblina que encobria a copa das árvores mais altas.
Os três meninos e as cinco meninas haviam cabulado as aulas de depois do almoço para poderem comemorar o aniversário de Gabriel que completava dezessete anos naquele dia.
Todos estavam montados em brilhantes bicicletas de última geração, que reluziam quando alguns raios do tímido sol de junho atravessavam a barreira de nuvens que os encobria.
Os oito iam para seu lugar secreto. Uma clareira no bosque que ladeava a cidade. Era um lugar tranqüilo, livre de inspetores ou aulas chatas, nem mesmo os celulares funcionavam naquele ambiente tão distante de tudo.
Ao chegarem, eles largaram as bicicletas em um canto qualquer, estenderam a toalha xadrez, sentaram-se em um círculo imperfeito e tiraram das mochilas algumas guloseimas e refrigerantes.
- O que é isso pessoal? – perguntou Gabriel com sua voz sonora – Refrigerantes? Hoje é meu aniversário, deixem que eu sirva a bebida.
Abrindo sua mochila ele tirou uma garrafa de Vodka e alguns copos de plástico.
Os meninos bradaram de felicidade, duas garotas trocaram olhares significativos e risinhos. Apenas Helga Dramini, uma garota ruiva de olhos verdes muito expressivos, fez careta.
- O quê há com você minha linda? – perguntou Gabriel se aproximando da menina – não gostou da surpresa?
- Surpresa? – desdenhou Helga – não poderia esperar algo mais previsível e desprezível de você Gabriel.
- Parem com isso vocês dois – Interrompeu Hórus, o mais velho de todos do grupo. Sua rala barba lhe conferia certo charme que era acentuado por seu cabelo castanho que lhe caía sobre os olhos muito azuis e misteriosos. Seu nariz fino era algo quase feminino assim como seus lábios rosados e perfeitos. – Hoje é dia de diversão Helga, se você não quiser beber eu te acompanho. Prometo
- Ótimo, porque eu não me aproximarei dessa garrafa.
- O quê? – surpreendeu-se Lyn Costa, uma garota de brilhantes cabelos negros tão curtos quanto os de Gabriel. Seus miúdos olhos castanhos semi-cerrados de raiva eram tão assustadores quanto seus lábios finos muito crispados. Ela não era muito alta, nem muito bonita.
Sua beleza era peculiar, um misto de mistério e sedução. – Você não vai permitir que essazinha destrua nossa festa, vai? – desafiou a menina.
- Ninguém vai destruir nada, e como prova disso, também não beberei – disse Marcos, o melhor amigo de Gabriel.
- Ah Marcos, você vai beber sim, nem que eu tenha que enfiar-lhe a Vodka garganta abaixo.
- Eu não beberei – disse Marcos - entretanto, eu trouxe algumas diversõezinhas para nós.
Ele tirou do bolso um pacote e despejou na palma de sua mão uma dúzia de comprimidos.
- Alucinógenos? – os olhos de Bia brilharam de felicidade. Ela era a namorada de Gabriel, assim como de Marcos e de Gustavo. Não havia ciúmes entre eles, era um tipo de relacionamento moderno, muito popular entre os jovens daquela época.
- Ótimo – disse Helga em tom de protesto – Meus amigos são um bando de drogados e de prostituídos.
- Deixe de reclamar Helga – disse Marcos abraçando a menina pela cintura – todos nós sabemos que você já dormiu com todo o time de futebol. – Ele então se aproximou da menina e beijou-a.
Ela o empurrou e disse:
- Mas que ousadia a sua. Quem você pensa que eu sou? A Bia?
- Certamente você não é como eu – disse Bia – Não sou tão fácil quanto você – riu-se a menina.
- Eu fácil? Imagina, são seus olhos. – Helga então se virou para Marcos e disse:
- Jamais faça isso novamente, deixe que eu te beije.
Ela então o segurou pela cintura e seus lábios se fundiram.
Gabriel abriu a garrafa de Vodka e distribuiu copos entre todos. Como havia prometido Hórus não bebeu, entretanto, ingeriu dois comprimidos de alucinógeno, tirou da mochila uma carteira de cigarros, que ele distribuiu entre todos, inclusive à Helga.
Pouco tempo depois todos estavam muito diferentes.
Gabriel não largava seu copo e cantava uma canção da época de seus pais; sua camiseta já havia sido rasgada por Bia que estava seminua beijando enlouquecidamente Hórus que tinha o cinto aberto. Lyn Costa tentava fugir de Virna, sua colega de classe lésbica. Virna mantinha um sólido relacionamento de três anos com Jaqueline, mas ela estava muito ocupada desmaiada ao lado de Marcos e de Helga que pareciam ter se fundido em um só corpo em meio à grama seca.
Muito tempo depois, lentamente o efeito do álcool, do cigarro e da droga passou.


A primeira a voltar a si foi Jaqueline. O desmaio pareceu ter revigorado-a. Marcos havia pegado no sono a mais de duas horas e não dava sinais de que iria despertar tão cedo, Bia e Helga tentavam resolver uma equação de matemática que deveria ser entregue na próxima aula, Hórus e Gabriel conversavam e riam de coisas completamente irracionais, Lyn Costa e Virna agora riam de uma mariposa que tentava inutilmente levantar vôo, algo realmente vão, pois Virna havia partido suas duas asas.
Repentinamente Gabriel saltou de seu lugar e aproximou-se de Marcos. Ele chutou seu amigo com violência, entretanto o menino não se moveu.
- Tenho uma idéia, - disse Virna aproximando-se de Marcos com a garrafa de Vodka na mão – ela então verteu o que sobrara do precioso líquido garganta abaixo do menino que se engasgou e levantou xingando a menina de todos os nomes feios possíveis.
- Você está louca? – gritou ele para Virna
- Foi o Gabriel que mandou – mentiu a garota
- Que droga! Ainda não são seis horas, porque já temos que ir embora?
- Não vamos embora – disse Gabriel – vamos brincar
Os olhos de Marcos brilharam e ele pareceu entender o que o amigo quisera dizer.
Ele pegou sua mochila, retirou oito velas vermelhas e oito velas pretas de dentro, um crucifixo e um pentagrama.
Marcos dispôs as velas em circulo e dentro dele afixou o pentagrama no solo com o crucifixo sobre ele.
Sem dizer palavra alguma todos os oitos se reuniram ao redor das velas, deram-se as mãos e fecharam os olhos.
Como era inverno, antes das cinco da tarde o sol já teria se posto. Eram quatro e cinqüenta. As sombras começavam a se estender e o vento frio a soprar.
- Eu, Marcos – começou o menino – invoco-os Altos espíritos. Ordeno que se manifestem nesse círculo mágico. Pelo poder da água, da terra, do ar e do fogo.
- Si se talal se talaal – disseram todos em uníssono.
Uma lufada de vento particularmente forte derrubou uma vela que incendiou a toalha xadrez. Por estarem de olhos fechados eles não perceberam o que haviam acontecido.
- Vocês sentem? – sussurrou Helga – o calor dos espíritos?
- Sim, eu sinto – disse Gabriel.
A chama se alastrava pelas folhas secas que cobriam o solo, e já ultrapassava o circulo.
Talvez tenha sido o efeito das drogas e do álcool, talvez tenha sido descuido, talvez tenha sido a magia, não se sabe como, mas quando eles perceberam o que havia acontecido, o bosque já estava em chamas.
O desespero então tomou conta de todos, a fumaça dificultava visão na escuridão crescente, havia ainda a gritaria das meninas que não sabiam para onde fugir, e para piorar, galhos em chamas caíam constantemente do alto das árvores.
O primeiro a encontrar a estrada foi Gabriel que permaneceu um bom tempo sozinho sem saber o que fazer. Logo Marcos o alcançou seguido de Bia que acompanhava Virna. A roupa das meninas estava chamuscada e em várias partes já havia sido consumida pelas chamas. Havia uma feia queimadura na mão de Bia e o cabelo de Marcos que era longo e brilhante foi reduzido pela metade e seu pescoço estava na carne viva.
Jaqueline repentinamente surgiu por entre as árvores uns cinqüenta metros à esquerda. Ao avistar os amigos a menina desmaiou intoxicada pela fumaça enquanto as chamas consumiam sua perna. Os garotos correram para socorrê-la, mas era tarde, Jaqueline estava morta.
A brincadeira de aniversário custou muito mais do que os adolescentes haviam previsto.
O funeral da menina foi doloroso e hostil. Todos pareciam condenar Gabriel pelo ocorrido, apesar dele estar sentado em uma cadeira de rodas (sua perna esquerda fora quebrada por um galho em chamas que despencou sobre ele e Marcos). Bia e Virna permaneciam no hospital, os pulmões das duas meninas haviam sido permanentemente danificados, e elas não puderam se despedir de Jaqueline.
Marcos teve que ser internado às pressas numa clínica psiquiátrica, pois uma crise de pânico o havia acometido.
Os especialistas diziam que presenciar a morte de alguém próximo poderia resultar num transtorno incurável, apenas controlável.
Entretanto, os problemas dos cinco pareciam ínfimos quando comparado com os da família de Lyn Costa, Hórus e Helga. Os três ainda não haviam sido encontrados.
As buscas pelo bosque haviam mobilizado meia cidade, policiais, parentes, amigos e curiosos colaboravam na desesperada caçada pelos meninos. O fogo parecia ter levado consigo qualquer esperança possível, deixando para trás apenas cinzas e dor.
Nem mesmo um pedaço de roupa rasgada foi encontrado, nem uma parte do uniforme escolar que eles trajavam naquela tarde. O que restou, foi o resto retorcido das oito bicicletas, como se fossem um monumento à desgraça, o único indício de que eles haviam estado ali, pois fora isso, nada foi achado durante as três semanas e meia de busca, quando a polícia concluiu que eles haviam sido carbonizados e nem mesmo seus ossos escaparam à fúria das chamas que lambiam tudo o que encontravam à sua frente, e isso incluía os três garotos.
Mas, poderia ter sido o fogo tão voraz e tão avassalador ao ponto de levar consigo três vidas e não deixar pára trás nenhum indício de sua ação?

Um comentário:

  1. há!
    eu já li antes
    em primeira mão ;p
    muito bom
    é a J.K.Rowling masculino
    ahuahuahua

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